Harry Styles se reinventa como estrela do rock

Desde que há quase dois anos se confirmou que o One Direction iria mesmo fazer um hiato no seu percurso (depois da saída de Zayn Malik) que grande parte das atenções recaíram sobre Harry Styles. É inegável afirmar que sempre foi o membro mais carismático entre os cinco que durante cinco anos foram a maior boyband do mundo.
Com o hiato anunciado, a história repetiu-se. Cada um dos membros começou a trilhar os seus percursos a solo. E depois de um álbum de Zayn e dos singles editados por Niall Horan e Louis Tomlinson, a expectativa quanto ao que Harry faria na sua vida pós-One Direction só se adensou.
O primeiro álbum, homônimo, acaba de ser editado e espelha uma autêntica reinvenção por parte do jovem de 23 anos. Se há um ano Zayn também se reinventou no álbum Mind of Mine, mas na pele de estrela de r&b focado no hedonismo do corpo, estando assim mais em consonância com o que domina o gosto mainstream, Harry opta por uma direção bem diferente, trazendo para cima da mesa uma série de referências que estão bem ancoradas na herança do rock clássico e que dão cor às suas canções de tom confessional. David Bowie, Elton John, Beatles, Rolling Stones são alguns dos nomes que se podem enumerar.
A referência à escola soft rock já tinha começado a ser traçada no One Direction, particularmente nos dois últimos álbuns de estúdio da boyband, Four (2014) e Made in the AM (2015), que privilegiavam enquanto influências artistas que provavelmente ouviram através dos pais.
Mas mesmo seguindo alguns dos passos já trilhados no One Direction, é notório que neste seu primeiro álbum Harry Styles tenta demarcar-se do que foi o seu passado a conquistar crianças e adolescentes com canções açucaradas pensadas para os grandes estádios. Atravessa uma certa leveza ao longo destes 40 minutos de música que, por vezes, o aproximam mais de um cantautor folk (oiça-se a quase country Meet Me in the Halfway, Ever Since New York ou esse lamento sobre solidão que é From the Dining Table) do que da superestrela glamorosa que arrasta multidões por onde passa.
Todo o trajeto que antecedeu este álbum respeita a estratégia de afirmação de maturidade que habitualmente membros de uma boyband seguem quando querem mostrar o que valem por si só. O single que escolheu para se apresentar a solo, Sign of the Times (referência ao icônico álbum duplo de Prince), é uma canção que quase chega aos seis minutos de duração, o que põe logo as rádios de pé atrás.
Escolheu também uma balada épica que podia ser uma homenagem a David Bowie fase glam rock, com toques de Queen, mostrando como a solo o seu objetivo já não passa por fazer a canção mais catchy do mundo.
A primeira grande entrevista que deu após a pausa a que o One Direction se auto-impuseram foi feita pelo cineasta Cameron Crowe para a revista Rolling Stone, que acompanhou Harry Styles durante o último ano. Numa primeira instância poderia soar inusitado que um realizador como Crowe quisesse entrevistar um ex-membro de uma boyband como o One Direction, mas dado o gosto musical pelo rock clássico evidenciado por Harry Styles, essa associação deixa de ser tão descabida. Apesar da reinvenção levada a cabo, com Harry Styles a aparecer em programas de televisão de guitarra em riste a liderar a sua banda, qual estrela de rock, isso não o leva a desconsiderar a base de fãs que até agora o acompanhou com reverência.
O próprio afirmou nessa entrevista a Cameron Crowe:
“Quem é que tem o direito de dizer que jovens que gostam de música pop - diminutivo para popular, certo? - têm um gosto musical pior do que um hipster de 30 anos? Isso não te compete. A música é algo que está sempre em mudança. As jovens gostam dos Beatles. Vai me dizer que elas não falam a sério? Como é que podes dizer que elas não percebem? Elas são o nosso futuro. As nossas futuras médicas, advogadas, mães, presidentes, elas é que põe o mundo a girar. As fãs adolescentes não mentem. Se gostam de ti, elas estão lá para ti, não agem para parecerem fixes. Gostam de ti, o que é incrível.”Curiosamente, na mesma altura em que Harry Styles revela o seu primeiro álbum solo, vários dos antigos colegas de banda começam, quase simultaneamente, a mostrar o que andam fazendo em nome próprio. Ainda este mês, Niall Horan, o irlandês do quinteto britânico, lançou o single Slow Hands, um tema funk-pop que não destoaria no catálogo de um Nick Jonas e que revela uma outra faceta do cantor, depois da singela balada acústica This Town, editada no final do ano passado. Já Liam Payne anunciou na véspera em que Harry lançou o seu álbum que em 19 de maio sairá o seu primeiro single, Strip That Down, com a participação do rapper Quavo. Pelos segundos que já se conhecem, espere-se uma aproximação ao universo pop de Justin Timberlake. Já Zayn lançou recentemente um single com PARTYNEXTDOOR (rapper associado a Drake).
Se todos vão seguir o caminho, ainda é uma incógnita. Mas Harry Styles acaba de demonstrar uma identidade musical bem segura que tem tudo para evoluir da melhor forma.
Fonte: Diario de Noticias Portugal